Exercícios de 3D (transparência) #4, 2019

visor estereoscópico do início do século 20 e duas placas de acrílico, contendo dois textos do projeto Arquivo Universal (1992 - ), em português. Dimensões/dimensions:19,5x13x12 cm

O dispositivo ótico de visualização de fotografias em três dimensões foi criado em 1840, na Inglaterra e, desde então, a indústria dedicada ao uso da imagem como entretenimento se esforça em criar dispositivos que possam fazer o ser humano mergulhar cada vez mais fundo na realidade virtual, levando-o a pensar que ela é algo além do que a mera “ilusão de ótica”. Os textos do Arquivo Universal aplicados a essa tecnologia causam grande desconforto, não apenas pelo esforço em conseguir ‘ver’ apenas um texto com palavras que parecem flutuar diante dos olhos mas, também convertê-los em imagens, depois da leitura do mesmo. Algumas fotografias são facilmente reconhecíveis ou decifráveis. Outras, se desconhecidas, vão solicitar ao leitor o exercício da construção mental ou da invenção, para se tornar um espectador. Entre a documentação e a ficção, toda conversão texto-imagem através da conexão olho-cérebro vai deixar alguma “cicatriz” no córtex cerebral do indivíduo.

O Arquivo Universal é um projeto de compilação/coleção de textos jornalísticos sobre imagens fotográficas, iniciado em 1992. Os textos extraídos de jornal de uma forma geral exploram a maneira como o ser humano lida com a representação fotográfica. Através da linguagem simples e direta, a potência da imagem se encontra na capacidade do leitor ativar sua própria memória através da leitura do texto, gerando uma infinidade de imagens virtuais, todas legítimas e intransferíveis.

Um texto histórico:
[Através do estereoscópio] a mente tateia o seu caminho até às profundezas da imagem. A forma está doravante divorciada da matéria. [...] A matéria em grandes massas tem de estar sempre fixa e é cara; a forma é barata e transportável. Temos agora o fruto da criação, e não precisamos de nos preocupar com o caroço. Os homens irão caçar todos os objetos curiosos, bonitos e imponentes, como caçam o gado na América do Sul, para aproveitarem as peles, deixando as carcaças, por não terem valor. [...] A próxima guerra europeia vai enviar-nos estereografias das batalhas. Afirma-se que é possível fotografar a explosão de uma granada. Está porventura para breve o tempo em que um clarão, tão súbito e instantâneo como o do relâmpago que mostra uma roda a girar completamente imóvel, preservará o próprio instante do choque do confronto entre exércitos poderosos que estão mesmo agora a encontrar-se. O relâmpago do céu fotografa realmente objetos naturais sobre os corpos daqueles que acabou de destruir. O relâmpago de sabres e baionetas em confronto pode ser forçado a estereotipar-se a si mesmo numa quietude tão completa quanto a queda d’água do Niágara. Seríamos levados longe demais se desenvolvêssemos a nossa crença quanto às transformações que serão engendradas pelo maior dos triunfos humanos sobre as condições terrenas, o divórcio entre forma e substância. Deixemos os nossos leitores preencherem um cheque em branco sobre o futuro, conforme quiserem; pela nossa parte, damos antecipadamente o nosso apoio à sua imaginação.

Holmes, Oliver Wendell. “The Stereoscope and the Stereograph” [O Esterereoscópio e o Estereógrafo”], Atlantic Monthly, 1859.


Exercises on 3D (transparency) #4

stereoscopic viewer from early 20th century and two Plexiglass plates, containing two texts from the Universal Archive project (1992 -  ), in Portuguese.

Dimensões/dimensions: 19,5x13x12 cm