Imagem
de sobrevivência, 2015
Imagem de sobrevivência é
um projeto realizado a partir de várias coleções de diapositivos adquiridos em
diversos mercados de pulgas e feiras de artigos de segunda mão, em vários
países. Cada ‘escultura/estante' abriga e expõe 4 projetores do tipo
Kodak
Carousel, que projetam as imagens em transparência, de forma simultânea e
sobreposta. O resultado é uma projeção múltipla, muito pálida, que ao longo do
tempo se modifica constantemente, sem jamais se repetir, até que a luz dos
projetores a consumam totalmente, para que sejam substituídas por outras, mais
frescas.
Criados
a reboque do desejo de encantamento que o ser humano sempre buscou nas imagens
projetadas, os diapositivos são fruto de uma tecnologia popularizada entre as
décadas de 1950 e 1980, então tornada obsoleta e hoje praticamente
inexistente. São signos de uma época em que o ato de ver imagens era
um hábito social, compartilhado com a família e os amigos. Contemplar o lazer,
o ócio ativo, o verão, a quebra da rotina, a aventura, a paisagem, a viagem;
são imagens dotadas de um dinamismo intrínseco mas latente, que difere daquelas
contidas no álbum de família, sempre disponível mas de forma intimista. Uma
projeção de slides é a própria celebração do duplo ato de compartilhamento e
contemplação, simultaneamente. Além disso, o que difere os slides das fotografias
que se colecionavam em álbuns, alguns anos atrás, é a questão da quantidade.
Seu valor "unitário" é irrisório; slides são feitos e colecionados às
dúzias, às centenas e aos milhares.
O
princípio da projeção múltipla, simultânea e sobreposta é um comentário sobre o
‘acúmulo', sugerido pela própria natureza do material - o filme diapositivo.
Por outro lado, torna-se uma alegoria do próprio processo mnemônico; um
descortinar de imagens que se sobrepõem, se apagam, se completam ou resistem.
Esses diapositivos são resíduos infiéis e incompletos do que o colecionador de
imagens selecionou para reapresentar sua visão de mundo.
O
título do projeto é uma homenagem ao músico e compositor Egberto Gismonti,
autor da peça
Música de sobrevivência, cuja proximidade aos poemas
do saudoso Manoel de Barros me sugeriu fazer sobreviverem as imagens obsoletas
pois,
o que é bom para o lixo é bom para a poesia.
Outra
característica fundamental deste projeto que, inclusive, estabelece uma relação
conceitual precisa e próxima à ideia de ‘sobrevivência' da imagem, é a da
reposição dos diapositivos, por meio de outros diapositivos originais, de mesma
origem, à medida em que os originais utilizados na projeção vão se desgastando
pela exposição à luz dos projetores. Levar as imagens ao esgotamento total é
dar-lhes a chance de ultrapassar seu valor simbólico esvaziado e ganhar uma
espécie de sobrevida, que será explorada até o seu limite.